segunda-feira, 17 de abril de 2017

Documentário

Com o título "Crise brasileira e humor negro", o jornal francês Le Monde publica um artigo sobre o documentário "Brasil: o grande salto para trás", das francesas Frédérique Zingaro e Mathilde Bonnassieux, que será transmitido pela TV franco-alemã ARTE nessa terça-feira (18).

A correspondente do jornal Le Monde no Brasil, Claire Gatinois, escreve que em uma certa segunda-feira, no dia 17 de abril de 2016, o Brasil descobriu o rosto dos políticos que representavam a população na Câmara dos Deputados: conservadores, grandes fazendeiros, evangélicos loucos por Deus, homens apegados aos valores tradicionais e até saudosistas dos tempos da ditadura militar. Na maioria, pessoas corrompidas.

O artigo informa que durante a sessão de votação, que entrou madrugada adentro, esses deputados selariam o destino da então presidente Dilma Rousseff, reeleita em 2014, desencadeando o impeachment.

Este é o momento histórico do documentário "Brasil: o grande salto para trás", um momento-chave em que nosso país, numa crise vertiginosa, viu o seu futuro balançar. "É como o fim de um parênteses encantado aberto por Lula da Silva em 2003, legando prosperidade e permitindo que milhares de brasileiros saíssem da miséria, sem falar na projeção na cena diplomática internacional, tornando-se um ator relevante dos BRICS", escreve a jornalista, explicando que a indignação popular diante da corrupção de um Partido dos Trabalhadores desgastado pelo poder - corrupção que se alastra pelos partidos da direita e da esquerda - serviu de pano de fundo para o impeachment. "Desse instante nascerá o confronto, muitas vezes maniqueísta, entre os pró e os contra a destituição, opondo uma esquerda progressista e uma direita agarrada aos seus privilégios", analisa Claire Gatinois.

O documentário das cineastas francesas optou pela descrição desta fratura, centrando a narrativa em Gregório Duvivier, jovem humorista da esquerda, que fez a maioria das entrevistas, incluindo a própria ex-presidente Dilma.

Le Monde analisa que o telespectador é levado a seguir a interpretação muito pessoal do cômico, que serve de referência para se compreender a complexidade do Brasil. O percurso é revelador do sentimento de uma parte dos brasileiros: depois do impeachment, os militantes e simpatizantes da esquerda denunciam um complô anti-PT por parte de uma justiça enviezada e das mídias mais fortes, dando à destituição de Dilma ares de "um golpe de Estado parlamentar."

Como será o futuro agora? - indaga o documentário, colocando em foco a perspectiva de um triste destino para a esquerda nacional, a exemplo do que ocorreu em diversos países da América Latina. Le Monde constata que a conclusão do documentário é que, sem negar os erros do PT, a atual política de Michel Temer, marcada pelo rigor e pelas reformas que seduzem os mercados financeiros, compromete, com seus cortes, as despesas destinadas à saúde, educação e ajuda aos desfavorecidos.

sábado, 1 de abril de 2017

Mensalinho mato-grossense

O ex-presidente da Assembleia José Riva abriu, esta tarde, o reinterrogatório para a juíza Selma Arruda fazendo uma nova confissão afirmando que o “mensalinho” -pagamento de propina para deputados e ex-parlamentares- já existia na Assembleia Legislativa desde a gestão do ex-governador Dante de Oliveira (PSDB), já falecido. Depois, continuou nos demais governos, mas em 2003 quando Blairo Maggi (PP) foi eleito governador ele se recusou a pagar mensalinho aos deputados para aprovação dos projetos do governo. No entanto, Maggi propôs que aumentaria o valor do duodécimo repassado para a Assembleia e que a mesa diretora se virasse para contemplar todos os deputados para não haver divergências.

Segundo Riva, entre 2003 e 2005 foi movimentado R$ 1,1 milhão. “Em 2005 aumentou para 3,4 milhões. Em 2006 foram R$ 5 milhões. Em 2007 movimentou R$ 12 milhões, em 2008 movimentou 15 milhões e outros R$ 6, milhões em 2009", atestou, lendo planilhas com anotações manuais feitas por ele.

Riva disse que começou com repasses de R$ 15 mil para cada um dos parlamentares e ex, depois passou para R$ 20 mil e acredita que, ao final, antes de ser alvo do Ministério Público, o mensalinho repassado aos deputados estava na casa dos R$ 25 mil. Além dele, o ex-presidente aponta que foram beneficiados com "mesadas" Silval Barbosa, Sérgio Ricardo, Mauro Savi, Carlão Nascimento, Dilceu Dal Bosco, Alencar Soares, Pedro Satélite, Renê Barbour (falecido), Campos Neto, Zeca D`Ávila, Nataniel de Jesus, Humberto Bosaipo, Carlos Brito, João Malheiros, Eliene Lima, José Carlos de Freitas, Gilmar Fabris, José Domingos Fraga, Walace Guimarães, Percival Muniz, Wagner Ramos, Adalto de Freitas, Sebastião Resende, Juarez Costa, Walter Rabelo (falecido), Nilson Santos, Chica Nunes, Airton Português, Maksues Leite, Guilherme Maluf, Ademir Brunetto, Chico Galindo e Antônio Brito. Já Chico Daltro, José Carlos do Pátio, Ságuas Moraes, Verinha e Otaviano Pivetta estavam fora do esquema.

José Riva também confirmou que dinheiro desviado dos valores desviados da Assembleia, cerca de R$ 2,5 milhões, foram usados na compra da vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado (TCE) que vinha sendo ocupada por Sergio Ricardo, afastado do cargo, recentemente, por decisão do juiz Luís Aparecido Bortolussi Júnior. Riva disse ainda que parte dos valores de propina também foi usada pelo ex-deputado Maksuês Leite, em 2008, para comprar uma emissora de TV. “Confirmo que foi daqui (Assembleia) que saíram esses R$ 2,5 milhões”, diz Riva.

José Riva atestou para a juíza Selma Rosane que o pagamento de mensalinho aos deputados ocorreu nas gestões de Silval Barbosa, Sérgio Ricardo - ambos ex-presidentes da Assembleia- e na sua gestão. Garantiu também que todos os deputados que eram contemplados e sabiam da origem ilícita do dinheiro. "Quero fazer uma confissão e colaborar com a justiça, o Ministério Público e apresentar nomes de novos agentes envolvidos nessa situação".

Fonte: Só Notícias