sábado, 21 de abril de 2012

Defesa da diversidade

"Convencer editores de que histórias são importantes de serem contadas, apesar de 'mais uma história de índio', é um desgaste constante". A opinião é do jornalista Felipe Milanez. Documentarista independente, o profissional já passou pela revista National Geographic Brasil e, nesta semana, falou com o Comunique-se sobre as dificuldades de realizar pautas ligadas a questões indígenas.

De acordo com o jornalista, é difícil generalizar, mas a cobertura da imprensa é "bastante deficitária" e, em geral, a mídia local ser mais racista. "Em um plano nacional, por vezes grandes veículos seguem uma visão um tanto distorcida quando colocam os índios como 'entraves ao progresso'. Como formadores de opinião, acho que podemos fazer muito mais para defender a diversidade cultural do Brasil e os direitos humanos de minorias étnicas", diz.

A análise de Milanez remete aos tempos de escola e a formação cultural do brasileiro. Ele ressalta que os livros de história levam ao preconceito contra os índios. "Existem também a ideia xenófoba de que a demarcação dos territórios indígenas 'diminuem ainda mais o território destinado aos brasileiros'. Quais brasileiros?", questiona. "É preciso um esforço individual dos jornalistas para estudar um tema mais distante, com menos acesso a informação, para transformar a sua própria visão e, assim, contribuir para mudar visão tacanha que se tem dos índios no Brasil".

A opinião é compartilhada pela diretora de redação da revista Com Ciência Ambiental, Cilene Victor. Atualmente, segundo ela, o país faz uma cobertura meramente factual. “É interessante trabalhar a questão indígena muito além do factual. Aprender a criar pautas criativas”, explica. Ela acredita que seria importante se a imprensa local fosse “guardiã dessas reportagens”. Para a profissional, assim como em outras pautas, é preciso ter conhecimento e respeito pela cultura. "O jornalista precisa de conhecimento técnico para falar com as comunidades indígenas. Além das fontes principais, ele precisa ter fontes de retaguarda", diz Cilene. A jornalista lembra que, ao visitar e entrevistar as fontes, o profissional precisa ter postura.

Outro fator é lembrado por Milanez que diz que "enrustidos de preconceito é difícil apurar uma pauta”.É certo que, ao longo da carreira, muitas reportagens marcaram a carreira do jornalista e o trabalho com os índios trouxe novas visões. “Esteja preparado para se transformar. É inevitável que se questione depois do convívio com os índios. Mas, é uma experiência de vida extraordinária e que o jornalismo, como profissão, permite”. Milanez também reforça que é essencial conversar diretamente com os índios. “Escutem eles. Os índios falam por si, são atores de sua história, responsáveis por seus atos e devem ser ouvidos sobre suas opiniões e seus destinos”.
Fonte: Comunique-se

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