segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Animais abandonados

A proximidade das férias escolares e a possibilidade de festejar o Natal e o Ano Novo viajando faz crescer significativamente o índice de abandono de animais domésticos no país. Segundo a ONG Arca Brasil, cresce cerca de 70% o abandono de animais à medida em que chega o final do ano - em comparação com os meses anteriores.

O número alarmante faz parte da realidade de quem cuida durante todo o ano de cães deixados por seus donos pelas ruas. Os animais, em geral doentes e desnutridos, são acolhidos nas casas das chamadas "protetoras", que muitas vezes passam por dificuldades, mas dividem o que têm para tornar a vida desses bichinhos um pouco melhor.

A protetora Telma de Cássia Pereira, 56 anos, se dedica a cuidar de cães abandonados há 32 anos. Hoje em sua casa no Riacho Grande, em São Paulo, são mais de 60 animais que foram abandonados e recolhidos após denúncias de maus-tratos e casos de atropelamento. “Muitos foram encontrados amarrados em árvores, em portões, ou doentes, desnutridos. É uma situação muito triste”, conta.

Telma, que é auxiliar de enfermagem aposentada, sobrevive com as doações que recebe para cuidar dos seus animais. Aos sábados, é possível encontrá-la em frente a uma loja de artigos para animais na Avenida Ricardo Jafet, em São Paulo, pedindo doações que vão de ração a sabão em pó, para ajudar na higiene do canil que mantém no quintal.

“Eu não era muito chegada a cachorros até que um dia uma cadelinha cheia de pulgas apareceu na empresa em que eu trabalhava e decidi acolher. Desde então, mudei a minha vida para tentar tornar a vida desses bichinhos melhor”, diz.

Além de cuidar dos animais, Telma realiza um trabalho de castração de animais de rua em parceria com a Prefeitura de São Bernardo do Campo e alimenta cães abandonados, perto de onde mora, que não podem ser acolhidos em sua casa. “Eu não tenho mais espaço para receber nenhum cachorro. E infelizmente nesta época do ano em que o povo quer viajar, muitos são abandonados. Como não tenho como acolher, saio distribuindo comida sempre que possível.” Só entre novembro e dezembro, mais de 50 cães foram deixados na região onde Telma mora. Em meses ao longo do ano, esse número não costuma passar de 20, segundo relata a protetora.


Solicitações sobre abandono

Neste ano, pela primeira vez, a ONG Arca Brasil decidiu quantificar a percepção que já era evidente em anos anteriores: o aumento de abandono de cães com a proximidade das festas de fim de ano. De acordo com levantamento feito pela entidade, com base em solicitações recebidas por email e por telefone, o abandono de animais domésticos cresceu cerca de 70% nos últimos dias com relação aos demais meses do ano.

“É um número impressionante. E certamente isso se deve à proximidade das férias e das festas de fim de ano. É importante frisar que o gesto de adotar e conviver com o animal tem que ser um compromisso como o que se assume com um membro da família. Hoje em dia existem muitos hotéis, pet shops e até famílias que recebem animais para cuidar durante viagens de famílias, então não é necessário abandonar. Além disso, o abandono é crime”, afirma Marco Ciampi, fundador e presidente da ARCA Brasil.

A ONG recebe denúncias de todo o Brasil, mas não atua no recolhimento de animais abandonados. O trabalho da Arca Brasil é voltado à orientação e intermediação em caso de relatos de abandono e maus-tratos.


Sem doações

A protetora Clotilde Angelo de Souza, 65 anos, também dedica grande parte do seu tempo ao cuidado de seus mais de 130 cachorros e 60 gatos recolhidos do abandono. Ao contrário de Telma, no entanto, Clotilde sustenta os animais com seus próprios rendimentos.

"A vida de uma protetora é muito dramática. Se eu dependesse de doações, grande parte dos meus animais já teria morrido. O maior problema que enfrentamos é que as pessoas aparecem com um saco de ração para doar, mas deixam em nossa porta diversos cachorros. Muitos acham que a doação dá direito ao abandono. E com a proximidade do fim do ano a situação fica ainda pior", diz a protetora.

Clotilde cuida de seus animais em uma chácara com cerca de 3 mil metros quadrados, comprada por ela após a venda de uma confecção de cortinas com que trabalhava. Além do cuidado dos animais abandonados e doentes, a protetora também batalha pela castração dos bichinhos.

"É um trabalho intenso, que não se resume ao cuidado no dia a dia. Lutamos pela castração desses animais e para que eles sejam também adotados. Todos os sábados levo meus cães castrados para uma feira de adoção, mas as famílias não costumam querer pets adultos e a demora para a castração de filhotes causa ainda mais problemas", conta.

Por: Nathália Duarte
Fonte: Do G1

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