Portfólio: faz mesmo a diferença ter um na hora da contratação?
Silvana Chaves
Ele não irá substituir o currículo no processo seletivo, mas sem dúvidas, é um aliado para que o recrutador veja o que o candidato tem de melhor. Estamos falando dos portfólios. Muitos profissionais da área de comunicação, em especial os jornalistas, ignoram essa modalidade de “apresentação profissional”. Com as dicas apropriadas, é possível reunir os trabalhos de forma criativa, enriquecer o currículo e sair-se bem na tão sonhada vaga.
Se antes eles ficavam restritos apenas aos candidatos da área de criação e design, hoje já existem jornalistas que investem em uma homepage para deixar os trabalhos em um local esteticamente interessante e de fácil acesso.
Faz diferença?
A jornalista paulista Tatiana Fávaro é uma defensora dos portfólios. Ela, que já teve passagens pelo Observatório da Imprensa, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, mantém o site http://www.tatianafavaro.com.br, que por sinal é um dos primeiros a ser achado pelo Google quando digitamos expressões como “portfólio de jornalista”, o que mostra que essa ferramenta ainda é pouco explorada.
“Embora em jornalismo seja comum a indicação de um colega de profissão por outro para uma vaga, sempre vi importância em ter algum material para apresentar a quem fosse conversar comigo, quando eu era indicada e chamada para trabalhar em algum lugar. Fiz isso desde antes da internet, e saía com um portfólio em papel, com cópias de algumas das minhas reportagens, no início da minha carreira, mais um currículo, encadernadinho e tal. Com a chegada da internet ficou visível a necessidade de fazer uma versão online daquilo ali. Meu ex-marido, também jornalista, sempre trabalhou na área de publicidade e web desing e desenvolveu a primeira versão do meu portfólio, no kit.net. Na época morávamos em Campinas, e um portfólio web ia ajudar a ter um material acessível em São Paulo, onde está o mercado mais quente. Então eu separei algumas coisas que tinha. Cuidei de escolher o conteúdo e os textos de apresentação. Quase ninguém tinha isso na época, no começo dos anos 2000. Então fez o maior sucesso, até porque o visual dele atraía para a leitura e a linguagem falava direto com quem estivesse do outro lado, lendo", conta Tatiana.
"Já recebi propostas de trabalho e de freelancer em outros estados só porque a pessoa digitou na busca do Google alguma coisa que a levou ao meu portfólio"
Para manter a página, a jornalista paga uma taxa anual para manter o domínio e outra mensal pela hospedagem do conteúdo. O gasto, no entanto, é recompensado pelas ofertas interessantes de emprego. “Já recebi propostas de trabalho e de freelancer em outros estados só porque a pessoa digitou na busca do Google alguma coisa que a levou ao meu portfolio. E fiz jobs interessantes, bem pagos inclusive. É a velha máxima popular de que "quem não é visto não é lembrado". Estar no mercado é uma vitrine, o portfólio é mais uma, e considerável, na era que vivemos”, diz ela.
Lambaris?
Por meio da página que mantém na web, ela ajudou outras pessoas a investirem em outras oportunidades de renda com matérias que escreveu. “Eu trabalhei, entre outras editorias, no Suplemento Agrícola da primeira vez que passei pelo Estadão (2001-2003). E fiz uma reportagem sobre criação de lambaris. Até hoje, uma vez a cada dois meses, em média, eu recebo um telefonema de alguém querendo criar lambari. Gente simples, que quer uma alternativa de vida. Ou gente que quer investir. Não importa... sei que quando o sujeito digita lambari ali, o Google manda pra reportagem do Suplemento Agrícola, no meu portfólio (não na versão eletrônica do jornal) e o cara pega meu telefone (publicado no portfólio) e me liga. Já recebi até ligação internacional de gente querendo criar lambari. Acho muito engraçado.”
Com a palavra, o RH
A consultora de RH da Catho Online, Daniella Correa, explica o valor deste recurso e reforça a necessidade do tradicional currículo. “O portfólio funciona como uma demonstração ilustrativa das conquistas/ trabalhos profissionais. Obviamente, o currículo é indispensável, funciona como um resumo das principais experiências do candidato, incluindo formação, cursos, nome das empresas e cargos exercidos, diz ela.
Segundo Daniella, ao montar o portfólio para a área de Jornalismo e quaisquer outras áreas da Comunicação, o candidato deve ser seletivo. “O portfólio deverá conter os principais trabalhos, ilustrações com imagens e dados para contato, além de informações técnicas sobre cada projeto exposto”, finaliza a consultora de RH da Catho Online.
Sem exageros
O coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, Igor Fuser alerta os jornalistas para evitarem um erro comum na hora de escolher o que entrará na pasta de trabalhos. “Entendo portfólio como amostra do que o jornalista produziu de mais relevante. O jornalista deve evitar a tentação de engrossá-lo com uma quantidade grande de trabalhos. Materiais irrelevantes ou repetitivos estimulam o destinatário do portfólio a desistir da leitura ou, pior, a formar uma imagem negativa do jornalista. Basta incluir alguns trabalhos mais representativos, a título de exemplo do que ele já produziu até aquele momento, enfatizando as diferentes habilidades praticadas ou desenvolvidas”, explica.
Para Igor Fuser “um currículo diversificado valoriza a qualificação do jornalista, que pode se apresentar como um profissional versátil”.
Pontos a favor
É comum os profissionais desmerecerem o portfólio, achando que ele é desnecessário ou uma moda que vai passar. Mas, na corrida pelo emprego, não é bem assim.
Para a consultora de RH da Catho Online reunir os históricos da carreira passa uma visão positiva ao selecionador. “Quando o candidato apresenta um portfólio, além de demonstrar um planejamento de carreira, o material agrega valor ao currículo e à apresentação pessoal perante a empresa empregadora”, afirma Daniella Correa.
Igor Fuser, coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, diz que um bom portfólio faz com que o recrutador se sinta confiante ao ver que o interessado domina o assunto. “Muitas vezes, uma boa indicação pode até facilitar o acesso do candidato às oportunidades de emprego, mas na maioria das vezes o responsável pela contratação sentirá a necessidade de conhecer sua experiência anterior de um modo mais concreto do que com a simples leitura do currículo.”
Como fazer
Já a jornalista Tatiana Fávaro recomenda procurar um bom desenvolvedor para não montar uma página “meia-boca” e ficar na mão, sem ter o seu trabalho devidamente valorizado na exposição. “Se você não entende de web design (embora tenha ideias de como quer sua página) não vá se meter a fazer o que não sabe. Foi por isso que busquei ajuda de quem sabia, pra não correr o risco do portfólio ter o efeito contrário do que tem que ter. Minha praia era o conteúdo, então eu cuidei do conteúdo. O que, acredito, seja a segunda coisa importante: não precisa de quantidade. É legal você dar a opção da pessoa não ler tudo o que você escreveu. É legal você fazer com que seu site apareça na busca por palavras-chave.”
Ela finaliza parafraseando o arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe: “Uma outra coisa que acho que pode ser uma boa dica: menos é mais. Então, quanto menos pirotecnia tiver o portfolio melhor -- e não sou eu falando como jornalista e internauta, isso eu ouvi de quem trabalha com internet, entende de funcionalidade, reciprocidade e tendências”.
C-se pergunta:
Você mantém ou já pensou em criar um portifólio online?
Fonte: comunique-se
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