"Pobreza é eliminarmos nosso ecossistema para plantar capim e criar boi", diz Marina Silva
"A polinização hoje não é capitalizada porque é a natureza quem a faz. São as abelhas que polinizam as plantas para que estas dêem frutos. Quando não houver mais abelhas e os homens tiverem que polinizar as plantas é que se vai saber o custo disso". Esse foi um dos exemplos que a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, contou durante a conferência - Os Jovens ante o Desafio do Desenvolvimento Sustentável -, realizada no dia 13/04, na Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.
"Pensar no desenvolvimento sustentável é ter a idéia é de que nós podermos atender as reais necessidades das gerações presentes sem comprometer as gerações futuras. Pobreza é eliminarmos tudo isso [biomas] para plantar capim e criar boi", defende a senadora.
Segundo ela, estamos vivendo numa crise nunca antes imaginada. "No passado todas as preocupações eram com as partes - cidades, países, regiões. Agora nos preocupamos com o todo. Significa que nós nos deparamos com o limite do planeta, com nosso próprio limite. Ter uma limitação com relação às circunstâncias é uma coisa, outra coisa é parar para perceber que estamos à deriva de acordo com as escolhas no passado. O que o homem pensou até hoje é que a natureza assusta e é preciso controlá-la, domá-la. Agora, vemos que é o contrário, que sem ela estamos desamparados", argumenta.
O evento, que teve como referência o livro Desenvolvimento Sustentável: Que Bicho É Esse?, também contou com a presença de José Eli da Veiga, um dos autores da publicação e professor do Departamento de Economia da FEA-USP; Maria Clara Di Pierro, professora da Faculdade de Educação da USP, e do professor Cesar Ades.
Para Veiga, conquistar o desenvolvimento sustentável não é algo que a gente faz em curto prazo. "Embora já exista amplo consenso retórico de que tornar sustentável o processo de desenvolvimento é o maior desafio a ser enfrentado, ainda é demasiadamente precária a compreensão desse novo valor, que só emergiu no final do século 20", diz.
Alunos e professores
Em sua maioria composta por docentes e estudantes da Educação Básica e do Ensino Superior, o público da conferência fez diversas perguntas sobre como abordar o tema com os jovens. Para Marina, não há uma receita pronta. "O que se sabe é que qualquer mudança que não tem o envolvimento da juventude, não é viva - a juventude sente o cheiro do novo, do que é produtivo e criativo".
"Uma das coisas que vi foi a forma como o livro aborda o tema do desenvolvimento, com temas sobre a crise, as diferentes visões do caráter da crise, as tecnologias q temos, entre outros temas complexos que possibilitam uma interação do professor e aluno", conta a senadora, que indaga: "Será que alguém já parou para pensar que podemos eleger muito mais do que o prefeito da cidade, o governador do Estado e o presidente do Brasil? Alguém já pensou que podemos também eleger a madeira certificada, a separação de lixo, podemos eleger que o plano nacional de energia do Brasil não tenha tanto combustível fóssil?"
Energia
Durante a conferência, Veiga também abordou a questão do sistema energético brasileiro. Segundo ele, os ambientalistas não são contra as hidrelétricas. "Ainda há potencial hidrelétrico no país. O que falamos não é que não se faça, mas que elas [as hidrelétricas] sejam bem escolhidas e que se faça com o mínimo de inteligência. Temos muitas opções, mas estamos tomando as piores decisões", afirma.
O livro
Escrito por José Eli da Veiga e Lia Zatz, escritora de livros infanto-juvenis, Desenvolvimento sustentável, que bicho é esse? aborda algumas das grandes questões da ciência na atualidade de uma forma mais clara para que os jovens entendam um pouco mais do tema e possam refletir sobre ele.
Fonte: Amazonia.org.br
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