Na viagem pela BR-163, que liga a capital de Mato Grosso a Santarém, no Pará, os repórteres Júlio Mosquera e Laércio Dominges encontraram empresários e donos de propriedades rurais pequenas tentando conciliar os negócios com a necessidade de proteger o meio ambiente.
É o que você vai ver na quarta reportagem da série que o Jornal Nacional apresenta nesta semana.
Otaviano chegou caminhoneiro a Mato Grosso na década de 80. Hoje emprega três mil pessoas em Lucas do Rio Verde. É um dos maiores exportadores de soja e carne do país.
“Nós precisamos fazer um grande programa de revitalização de solos degradados e com isso talvez com isso triplicar a produção do Mato Grosso sem derrubar nem uma árvore sequer”, explica o empresário Otaviano Pivetta.
José Eduardo Pinto é presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do norte de Mato Grosso.
“O próprio empresário que está no segmento sabe da necessidade de trabalhar dentro de uma linha ambientalmente correta”, diz José Eduardo Pinto, do Sindicato Madeireiro do Norte de MT.
Iolanda Dambros faz parte de um programa pioneiro na BR-163. Cultiva mudas para reflorestar a Amazônia.
“As nativas, temos o angelo ensaia, temos o tento, temos andiroba, temos também o cedrinho”, diz ela.
O que o grande agricultor, o madeireiro e a pequena produtora rural tem em comum?
A consciência de que é preciso cuidar da Amazônia para continuar vivendo dela. Uma sentimento que surge também pela pressão do mercado.
Em Lucas do Rio Verde, todos os agricultores aderiram ao projeto de preservação das áreas nas margens dos rios e córregos. Querem conquistar para o município o certificado de que produzem sem destruir a natureza.
“O produto que está sendo produzido em Lucas e na região ele pode sair daqui com o selo verde. Ele pode sair daqui com a garantia de que a conservação ambiental é aliada da produção rural”, diz Luciana Coletti, secretária de agricultura de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso.
Há dez anos o professor Fiorelo Picoli estuda as mudanças de comportamento nos negócios ao longo da BR-163 e faz uma previsão:
“Quem não trabalhar as possibilidades dentro da realidade, dentro daquilo que é coerente, daquilo que é o correto, o certo, está fora, simplesmente está fora, o mercado expurga. A sociedade expurga, o marketing negativo dele expurga”, comenta o professor Fiorelo Picoli.
Fiorelo quer que as universidades públicas de Sinop, em Mato Grosso, assumam o papel de formar mão-de-obra qualificada para espalhar a tecnologia de aprimoramento da agricultura e do manejo da floresta.
As madeireiras que surgiram em Mato Grosso ao longo da BR-163 tiveram de se adaptar aos novos tempos para sobreviver: em vez de vender a madeira bruta, preparar o produto para o consumo, porque cada vez mais ficou caro e difícil extrair madeira da floresta amazônica.
“Hoje se a pessoa quiser ficar no setor ela é obrigada a trabalhar dentro da regra, não só por uma questão de cumprir legislação, por uma questão de mercado mesmo”, lembra o madeireiro em atividade José Eduardo.
Outros buscam novos caminhos. Jaldes trocou a extração de madeira pelo reflorestamento. Planta e colhe - teka, eucalipto e espécies nativas.
“O empresário de forma inteligente, seja o pecuarista, o agricultor, o próprio madeireiro, é reflorestar para prevenir o estoque futuro, daqui a 15 ou 20 anos”, Jaldes Langer, do Centro Exportadores de Madeira.
A redução no custo dos produtos é outra ambição. E aí, o caminho seria concluir o asfalto da BR 163 até Santarém e encurtar em mil quilômetros a estrada até a rota Via Rio Tapajós para exportar a produção por navio para os Estados Unidos, Ásia e Europa.
Hoje, a alternativa é o Porto de Paranaguá, no Paraná, a 2,3 mil quilômetros de distância.
O coordenador do comitê em defesa do asfalto na BR-163 apresenta a economia.
“Se trabalharmos com números frios, bastante básicos, a saída Santarém com relação a Paranaguá, o nosso produtor rural terá um lucro imediato de R$ 5 por saco de soja exportado”, afirma Jorge Baldo, do comitê pró-BR-163.
Os índios caiapó também esperam pelo asfalto da BR-163. Eles criaram em novo progresso, no Pará, o instituto Kabu, para vender a produção da castanha do Pará e de óleo de copaíba, destinado à indústria de cosméticos.
“Vai ajudar muito aos índios a escoar nosso produto”, diz Dotô Takak-Íre, relações públicas Kaiapó.
Mas querem garantias de que o asfalto não vai trazer mais destruição ambiental.
“A gente quer que o governo ajude a mitigar impacto que a BR está trazendo”, complementa Doto.
A rodovia asfaltada também ajudaria Iolanda a realizar o sonho de montar uma cooperativa para vender, ao longo da BR, os produtos retirados da floresta.
“Estamos trabalhando com mel, com plantas medicinais, mulheres se organizando, já estamos produzindo xarope, pomadas”, conta ela.
“Apicultor não desmata, apicultor não é interessante de jeito nenhum pra ele que queime as florestas e as flores que são alimento da abelha, que é a fonte de renda dele”, explica a engenheira florestal Epifânia Vuaden.
Para a engenheira florestal a Amazônia se fortalece quando quem vive do extrativismo passa da condição de subsistência para a de comerciante que preserva a mata.
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