quarta-feira, 13 de maio de 2009

Artigo Diário Regional

H1N1: a mutação

De décadas em décadas, um grupo de aves selvagens transmite cepas de vírus influenza para as aves domésticas e estas transmitem esses vírus aos seres humanos gerando surtos de gripe.

O vírus influenza pertence à família Orthomyxoviridae e vários subtipos dele já foram identificados no mundo. Cada subtipo recebe 2 letras (H e N) e 2 números para identificar o tipo de mutação que sofreram. O H corresponde ao tipo de hemaglutinina exposto na cápsula viral, enquanto que o N corresponde ao tipo de neuraminidase. Ambas são proteínas virais e são responsáveis também pelo grau de virulência e patogenicidade do agente.

Os vírus são considerados seres inertes fora do hospedeiro, portanto, só conseguem se multiplicar e realizar mutações habitando em seres vivos. Existem inúmeras cepas de H1N1 distribuídas pelo mundo inteiro dentro dos mais variados seres vivos, entretanto, estas cepas ainda são menos virulentas. Mesmo assim, a mutação ocorre indistintamente, porque esta é a forma encontrada pelo vírus para sobreviver ao meio em que está inserido.

A ocorrência de cepas intermediárias de H1N1 em suínos se deu pela primeira vez na China, um país que detém quase 50% da produção mundial de suínos, embora aproximadamente 93% dessa produção esteja destinada a subsistência, ou seja, sem controle sanitário rigoroso.

A pandemia que se vive hoje é resultado de evoluções genéticas das próprias cepas humanas, vez ou outra de origem intermediária animal. Assim como aconteceu com a gripe Espanhola causada pelo vírus mutante H1N1 em 1918/19, em 1957 com o vírus H2N2 na gripe Asiática e com a gripe de Hong-Kong em 1963, com o vírus H3N2.

A mutação pode fazer com que se quebre a especificidade, ou seja, um vírus que apenas ocorria em patos migratórios, por exemplo, após a mutação também passa a infectar suínos e humanos.

Certamente alcançaremos resistência contra a estirpe atual do H1N1, mas até que isso ocorra muitos casos serão notificados, da mesma forma que vacinas e fármacos eficientes também serão produzidos, do mesmo jeito que aconteceu nas pandemias passadas. Mas, enquanto essa “resistência” não é real, muitos acontecimentos ainda vão preocupar a população que, normalmente, não é comunicada da melhor forma.

Enquanto a gripe mexicana continua destacada nos noticiários, elevando o investimento do governo com publicidades informativas à população, enquanto muitos casos “suspeitos” são “diagnosticados” nos hospitais humanos, enquanto o alarde leva países ao embargo de importações de carne suína, enquanto ocorre a matança de suínos em países como Israel, enquanto o estado do Rio de Janeiro ocupa o ranking dos casos confirmados e o resto da humanidade não fala em outra coisa. Em Sinop, em Mato Grosso, no Brasil, o vírus da dengue continua sua saga, dentro do mosquito, zunindo pelos ares da cidade a procura da próxima vítima. Mas isso agora não dá ibope!


Por Riciely Vanessa Justo, acadêmica do 5º semestre de Veterinária da UFMT, campus Sinop

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