sábado, 9 de agosto de 2008

Pequenas cidades: grandes negócios.

O Globo Repórter de ontem, destacou algumas cidades da região norte mato-grossense, entre elas, Nova Mutum (foto).

Um Brasil em construção acelerada. É o que se vê ao longo da BR-163, nos municípios de Lucas do Rio Verde, Sorriso e Nova Mutum, região central de Mato Grosso. Ritmo frenético, impulsionado pelo dinheiro que vem da agricultura. Até casas em série. Um frigorífico que está se instalando na região não teve dúvida: mandou construir um bairro inteiro para os trabalhadores que vai contratar.

As mãos do empresário Moacir Cavaletti já ajudaram a pôr em pé grande parte dos prédios de Nova Mutum. O pedreiro chegou do Sul com apenas uma mala de roupa. A viagem era para conhecer a região, mas o dinheiro acabou e o jeito foi conseguir trabalho por lá.

Moacir levou a equipe do Globo Repórter para conhecer o lugar que transformou o seu destino e o de muita gente na cidade: uma hidrelétrica construída quase à mão pelos pioneiros.

No local, a vida de Moacir começou a mudar. Há 14 anos ele foi contratado por uma associação de agricultores para fechar um rio e construir a primeira hidrelétrica na região. A obra, que levou luz para a cidade e trouxe desenvolvimento, também iluminou a vida desse pedreiro. A partir de então, novas oportunidades de trabalho começaram a surgir. Era o ano de 1987. A energia elétrica era uma raridade no Centro-Oeste do país. E o pedreiro sem formação que conseguiu construir uma represa ganhou fama na região.

"No começo, fomos desmatando, abrindo picada até chegar ao local, porque não havia estrada. Tudo feito na mão. A obra era uma atração. Não tinha luz em parte nenhuma da cidade, mas aqui sim", lembra Moacir, que hoje é dono de uma construtora. Empresário que não avançou muito nos estudos. "Só fiz o primeiro ano da escola. Aprendi tudo trabalhando, praticando", diz.

Mas agora tem um arquiteto formado para supervisionar as novas obras. E é lá que ele se sente bem, ajudando a erguer novos prédios.

"Escritório não é meu chão. O que eu mais gosto de fazer é andar nas obras", conta Moacir.

Quantos prédios novos... As escolas públicas têm até piscina, capazes de acolher futuros moradores. A população nos três municípios cresce seis vezes mais rápido que a média nacional. Os novos migrantes vão atraídos por boas oportunidades.

A locutora da rádio anuncia: "Atenção, você que está à procura de emprego no município de Nova Mutum! Vamos às vagas: 20 vagas de auxiliar de produção, três vagas para doméstica e uma vaga para entregador".

O movimento é constante nas agências de emprego. Uma terra de oportunidades e de muito trabalho. Os pioneiros começaram praticamente do nada.

O dentista Jean Machado chegou há 21 anos com a mudança em cima de um caminhão e montou um consultório em um quarto de uma casa onde funcionava a administração municipal.

"Meu consultório se resumia a uma sala de 16 metros quadrados. Dentro dela, ainda havia a sala de espera", conta Jean.

A rua era de chão batido. A cidade não oferecia nada. Tudo estava por fazer. Mas ele conseguia ver muito além dos perigos e dificuldades.

"Eu vi cobras, onças. Mas vi pessoas que me receberam muito bem e um futuro promissor aqui", diz o dentista, que hoje tem um consultório moderno. A mulher, também dentista, chegou alguns anos depois. Jean ainda trabalhava duro. Uma longa jornada.

"Cansativa, mas gratificante. Eu consegui o que sonhava. Trabalhava de segunda a sábado, das 6h às 22h, e nos domingos, das 7h ao meio-dia. No final do dia, me sentia gratificado em ver todo aquele montante produzido", lembra Jean.

Hoje, voltar para Passo Fundo, de onde vieram, nem pensar.

"Voltar para passear. Mas, para morar, o nosso lugar é aqui", afirma a dentista Adriana Machado.

Você deixaria Curitiba, capital brasileira de melhor qualidade de vida, para morar em uma cidadezinha no meio de Mato Grosso? Os paranaenses Alexandre Castanho e Luciana Callegaro acabaram de chegar. Os dentistas montaram um consultório. Estão satisfeitos: conseguiram dez clientes em apenas 30 dias.

"Já temos pessoas da família que moram no Mato Grosso. Fizemos uma pesquisa durante alguns anos. Visitamos várias cidades, procurando a que mais se encaixava dentro da nossa proposta", conta Luciana.

"Nosso planejamento foi para que dentro de seis meses pudéssemos cobrir os custos, para nos manter e caminhar com as próprias pernas aqui. Eu acho que aqui é um Brasil novo que está surgindo. O crescimento é muito perceptível aqui, o que é difícil nos grandes centros", explica Alexandre.
Reportagem: Jonas Campos
Foto: Magnos Oliveira

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