A informação de que o dematamento da Amazônia voltou a acelerar-se representa um sinal de retrocesso na luta pela preservação desse grande tesouro natural brasileiro e mundial. Os satélites de detecção de desmatamento em tempo real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram a derrubada de 3,2 mil quilômetros quadrados da floresta nos últimos cinco anos de 2007. A questão é vital para a política preservacionista do governo e até para o reconhecimento internacional de nossa responsabilidade ambiental. Para o Ministério do Meio Ambiente, esses números não revelam a área real do desmatamento, que deve ser de mais de 7 mil quilômetros quadrados. A pressão econômica dos plantadores de soja e dos criadores de gado é a provável responsável pela alarmante constatação. A soja e a carne são commodities cujos preços subiram internacionalmente.
A preocupação oficial com os números do desmatamento, manifestada pelo presidente Lula ao convocar reunião emergencial de seis ministros para discuti-los, ganha importância pelo singelo fato de que o período em que o desmatamento ocorreu e foi constatado é o das chuvas na Amazônia. Se isso está ocorrendo na estação da chuva, o que esperar que aconteça a partir de abril, quando a Amazônia seca e se abre o período em que normalmente recrudescem as queimadas?
A preservação da floresta é um tema da mais absoluta atualidade. O mundo debate, com temor e aflição, a marcha ascendente do aquecimento global, para a qual contribui, entre outras causas, a devastação das reservas florestais. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada na Indonésia em dezembro de 2007, chamou a atenção do planeta para as contradições e paradoxos praticados em nome da política ambiental e de suas relações com o progresso econômico. E constatou que muitas vezes em nome do crescimento, especialmente da indústria, cometem-se atrocidades ecológicas, como a das emissões descontroladas de gases poluentes.
O Brasil vive, de alguma maneira, uma contradição semelhante. Em nome da necessidade incontestável de ampliar froteiras agrícolas e de produzir mais alimentos, avança sobre aquela que é a maior reserva florestal do planeta. Oficialmente nosso país adota uma política preservacionista, mas não consegue aplicar mecanismos que garantam sua implantação eficaz. Mesmo reconhecendo por seus governos e entidades de proteção ambiental que o futuro do país não está descolado, mas interligado e interdependente, do restante do planeta, o Brasil vive conflitos de interesses poderosos. O avanço do desmatamento é a comprovação dolorosa dessa realidade. Impõe-se, por isso, que as autoridades ambientais de todas as instâncias federativas falem a mesma língua e adotem as ações indispensáveis para implantar políticas industriais e agrícolas baseadas na consciência ambiental e na responsabilidade social.
Fonte: Pg 20, Zero Hora 25 janeiro 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário