Para reflexão, a Nadja, benfeitora da causa animal em Canoas, enviou artigo assinado pelo veterinário José Ricardo Henz:
É comum as pessoas que possuem animais de estimação, e os tratam com carinho, serem constrangidas com críticas. Os donos do animal, por exemplo, recebem a sugestão de trocar o bicho por uma criança pobre. Quem diz isso pode estar pensando que defende os interesses das crianças.
Compreender as verdadeiras razões da pobreza e do abandono das nossas crianças é complicado. Fica mais fácil culpar os animais, que não podem se defender. Como se deixar um cão morrer de virose, por exemplo, faria as crianças pobres comerem melhor. O problema do menor abandonado tem vários culpados. As causas primárias são estruturais e não podem ser mudadas por meio de boas intenções ou decretos.
Investimentos em saúde e educação são relegados para segundo plano. A má distribuição de renda gera a opulência num extremo e a miséria noutro.
O planejamento familiar enfrenta resistência religiosa e de setores ditos nacionalistas, além da indiferença do governo. O Estado negligencia suas obrigações com o bem-estar social, desviando recursos da educação, saúde, moradia e saneamento básico para investir em mineração, siderurgia, telecomunicações, energia e no sistema financeiro.
Os menores de rua muitas vezes são fugitivos da violência doméstica gerada por pais ou padrastos alcoólatras. Aí está uma longa relação de culpados de duas pernas pela situação das crianças pobres.
Mas há pessoas que entendem que uma criança pobre e um cão têm as mesma necessidade afetiva, revelando sua ignorância, alienação ou má fé e desprezo pela criança carente que dizem defender.
Muitos podem ter condições financeiras para adotar uma criança, mas são incapazes de prover suas necessidades afetivas e emocionais. A maioria dos que adotam um animal visa preencher um vazio em sua vida.
Pessoas idosas, muitas vezes marginalizadas pelas próprias famílias, têm no animalzinho de estimação talvez sua única razão para continuar vivendo. Há inúmeros registros de gente que superou a depressão graças ao convívio com animais de estimação. O contato com eles tem sido preconizado como um excelente auxiliar no tratamento de autistas.
Finalmente, não são apenas as dondocas que freqüentam as clínicas veterinárias. Pessoas humildes passam por apertos para levar a seus bichinhos o atendimento necessário. O respeito, o carinho e o afeto com os animais não eliminam a necessidade de atenção para com o ser humano. Pelo contrário, aprimoram e complementam a capacidade de relacionamento com nossos semelhantes.
Fonte: blog bicharada
Foto: Magnos Oliveira
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